
hábitos que tornaram os xetás diferentes de qualquer outro grupo indígena do Sul do país, restaram só algumas lembranças. A língua é falada por apenas três pessoas.
Os xetás podem ser considerados um povo genuinamente paranaense. Habitavam o Noroeste do estado, entre os rios Ivaí e Paraná. Na época do contato, já eram poucos. Estavam debilitados pela redução de sua área de domínio, ocupada pela agricultura cafeeira. “As disputas com outros povos, os conflitos internos e a fuga eterna dos brancos estavam fazendo a população xetá diminuir”, explica a antropóloga Carmen Lúcia daSilva,pesquisadora da Universidade Federal do Paranresponsável por um projeto de reagrupamento dos sobreviventes. Embora não se possa atribuir diretamente o fim dos xetás ao contato com os brancos, uma breve cronologia do povo mostra que a relação foi, no mínimo, desagregadora. O primeiro encontro foi uma iniciativa dos índios, que procuraram a administração da Fazenda Santa Rosa, no município de Douradina, uma propriedade que se tornou ponto de referência para o estudo da etnia. Eles sabiam que uma aproximação erainevitável, e deram o primeiro passo para evitar confrontos. Era uma estratégia de sobrevivência, conforme relata o mais velho deles, Kuein. Pelo visto, não deu certo.
Sete anos depois, expedições organizadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI, embrião da atual Funai) e pela Universidade do Paraná (hoje UFPR) não conseguiram localizar nenhum subgrupo xetá na floresta. O povo já não existia mais em seu estado original. A maioria havia morrido, por intoxicação alimentar, envenenamento, doenças e assassinatos. Os oito sobreviventes de hoje estão atualmente espalhados entre Santa Catarina, Paraná e São Paulo,
vivendo em cidades ou em reservas indígenas de outras etnias. Casaram-se com não-xetás ou com brancos, o que faz com que seus descendentes não possam mais ser considerados xetás. Mas deram sorte de ter recebido o auxílio de indigenistas, que os protegeram. "Se continuassem naquelas condições, seria muito difícil que alguém da etnia estivesse vivo até hoje", diz o assessor do governo do estado para assuntos indígenas, Edívio Battistelli. Até hoje eles só se reuniram duas vezes, a primeira delas há nove anos. "Um dia eu descobri que tinha dois irmãos, que tinham esposas e que tinham filhos. Descobri que eu tinha sobrinhos e que havia mais gente do meu povo", lembra, emocionada, Ana Maria Tiguá. Desde então, alguns dos xetás alimentam o sonho de viverem juntos novamente – um devaneio que pode tornar-se realidade. O projeto para reagrupar os xetás está em andamento desde 2000 e foi entregue à Fundação Nacional do Índio (Funai) na semana passada. Carmen não fala sobre o relatório, mas a idéia é que os oito xetás e seus descendentes ocupem uma área de 6 mil alqueires, entre Douradina eUmuarama.O ainda será discutido e depende da posse das terras, que não pertencem à União.O reagrupamento não é unanimidade entre os estudiosos da tribo.
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